domingo, 6 de abril de 2014

A Jamahiriya Líbia que não existe mais

Todas as vezes que eu escrevo sobre o governo imperialistas norte-americano, não consigo esquecer a frase do Aiatolá Komeini: “O demônio governa os Estados Unidos da América”. E quando ele escreveu demônio, com certeza se referia às estruturas de poder que dominam a economia, a imprensa, o congresso, a cúpula militar etc. Somente esta afirmação - que me perdoem meus amigos marxistas – justifica ao longo das últimas décadas a atuação nefasta e perniciosa daquele governo perante a humanidade. Os imperialistas norte-americanos fomentaram guerras, destruição, sabotagens, terrorismo de Estado, em dezenas ou centenas de países. E tudo isso com o único propósito de dominar econômica e militarmente o planeta, transformar os pequenos povos em escravos fornecedores de matérias primas desperdiçadas no altar do capitalismo selvagem: luxo e riqueza. Os muçulmanos dizem que “o demônio governa os Estados Unidos da América”, e os cristão dizem que “os adoradores do Bezerro de Ouro” governam os EUA. Quando Moisés desceu da montanha onde recebeu a tábua com os 10 mandamentos, encontrou parte do povo judeu adorando o Bezerro de Ouro. Nos dias atuais, esses adoradores são os banqueiros e financistas que controlam e dominam o sistema financeiro mundial, explorando e oprimindo os povos e nações. Após essa introdução, vamos ao tema título desta matéria. Não sei se eu sou o brasileiro que mais viajou à Líbia no período liderado pelo mártir Muamar Kadafi. Dezenove vezes estive na Líbia. Minha primeira viagem foi em 1985. No ano seguinte, na segunda viagem, estava em Tripoli quando começou o bombardeio aéreo norte-americano. E a última viagem foi em dezembro de 2010, três meses antes do início dos ataques terroristas da Otan à Líbia. Feita esta apresentação, vamos ao que interessa: Jamahiriya (em árabe, poder popular, poder do povo) foi a forma de governo encontrada pelo mártir Muamar Kadafi para instaurar na Líbia um sistema de governo realmente democrático, o Poder das Massas.
Na Jamahiriya não havia políticos, profissionais aos quais se dá uma carta branca de 4, 6 ou 8 anos para que governem e defendam seus interesses próprios, em nome da maioria da população. Na Jamahirya Líbia o povo governava através dos Congressos e Comitês Populares. As Associações de trabalhadores e profissionais liberais, os sindicatos, as organizações estudantis, os agrupamentos militares, governavam de forma direta, sem intermediários, e o povo atuava livremente, sem representantes. Cada Assembleia popular era um órgão de defesa da população, e nos Congressos Populares todas as questões administrativas do país eram decididas. A Líbia de Kadafi foi a primeira Jamahiriya do mundo. Foi o berço de um pensamento que incomoda e desmascara a todos os atuais sistemas de governo em exercício, de norte a sul, leste ou oeste, capitalistas ou socialistas. Durante minhas viagens visitei diversos Congressos Populares e vi o exercício do verdadeiro poder popular, onde cada cidadão é igual, onde a decisão do operário ou do estudante tem o mesmo valor da decisão do militar ou do médico, do ministro ou do agricultor. A Líbia de Kadafi estava muito à frente do mundo atual. Estava tão avançada que a própria população encontrava algumas dificuldades em acompanhar o pensamento do líder. E para se contrapor aos ensinamentos de Kadafi, o Livro Verde, havia um bombardeio constante de informações mentirosas pelos meios de comunicação ocidentais. A maioria das residências líbias captava via satélite os canais de televisão da Itália, França, Alemanha, Espanha e Inglaterra, e como se sabe, são monitorados e dominados pelo imperialismo e pelo sionismo, e fomentavam na população árabe líbia os decadentes costumes ocidentais. Frente a uma sociedade conservadora como a islâmica, os meios de comunicação do Ocidente apresentavam a pornografia, a droga e a perversão sexual, durante décadas e décadas, para minar e destruir a resistência cultural árabe e muçulmana. De um lado tínhamos apenas um jovem idealista chamado Muamar Kadafi, trazendo consigo a herança cultural de seus ancestrais, a milenar cultura árabe, a conhecida persistência e determinação dos beduínos. De outro, governos das maiores potências econômicas e militares do planeta, trabalhando e combatendo as ideias do jovem idealista que saiu de uma tenda no deserto de Sirte para conquistar o mundo não pela força das armas, mas pela força do pensamento, através da proposta inovadora de democracia direta, de exercício do poder sem intermediários ou representantes.
Nas viagens que realizei à Líbia acompanhei pessoalmente a evolução e transformações que o país sofreu ao longo de duas décadas. Um pequeno país no Norte da África, com pouco mais de 6 milhões de habitantes, se projetou a nível mundial pela grandeza e coragem de seu povo, sob a liderança de Muamar Kadafi. Essa projeção inesperada pelas grandes potências custou ao país um conflito permanente e constantes combates com as potências colonialistas e imperialistas. A Jamahiriya Líbia colocava a riqueza de seu solo a serviço da liberdade, do progresso e da justiça. Promovia justiça social dando aos líbios o melhor IDH da África. Apoiava e financiava movimentos revolucionários que lutavam por libertação em diversas partes do mundo. Denunciava a exploração e a injustiça nos organismos internacionais manipulados pelo imperialismo e pelo sionismo. E por tudo isso o povo líbio pagou um alto preço. O país foi praticamente devastado pela OTAN a serviço dos EUA na guerra de ocupação no início de 2011: toda a infraestrutura foi destruída por bombardeios de aviões norte-americanos, franceses e ingleses, rodovias, viadutos, canais de irrigação, tubulações e centrais de distribuição do maior rio artificial do mundo que estava levando água para cidades, vilas e aldeias. Assim começa os relatos deste site que depois se transformarão em livro, para que não se perca no tempo a história da Jamahiriya Líbia que não existe mais.

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