sábado, 29 de março de 2014

A primeira viagem à Líbia

No ano de 1985 tirei essa foto com beduínos que vinham do deserto de Sirte para fazer comércio no mercado velho de Trípoli. Eles foram simpáticos, atenciosos e não se negaram a tirar a foto. Não trocamos uma palavra porque eles só falavam o árabe. E mesmo assim trocamos apertos de mãos, olhares de alegria e fizemos esta foto. Na época eu tinha pouco mais de 19 anos de idade. E o número 19 se repete quando constato que viajei à Líbia kadafista 19 vezes ao longo das últimas décadas. A primeira viagem foi esta da foto, em 1985, e a última foi três meses antes da guerra de ocupação da Líbia em 13 de fevereiro 2011. Talvez tenha sido um dos brasileiros que mais viajaram à Líbia, ou melhor, à Grande Jamahiriya Árabe Popular Socialista da Líbia. No dia desta foto recordo que o Museu de Trípoli não tinha o lago e os melhoramentos que foram feitos nos anos que se seguiram. A praça Verde, no final da avenida Omar Moukhtar, parecia mais um estacionamento de carros. Nos anos seguintes foi remodelada. As avenidas de Trípoli, com arquitetura italiana, remetiam aos velhos filmes sobre cidades árabes de colonização italiana ou francesa. A primeira impressão que tive ao desembarcar no aeroporto de Trípoli foi a de que não suportaria tanto calor. Uma impressão que se repetia sempre quando visitava o país durante o verão. Mas quando as horas passavam o corpo se acostumava e acabava esquecendo o choque térmico inicial. Trípoli era uma cidade que começava a despertar. Nos primeiros anos da Revolução Al Fateh, liderada por Muamar Kadafi, o governo popular tratou de atender às necessidades básicas da população, como água e alimentos, depois, veio o grande desafio da habitação. As fotografias antigas de Trípoli, quando Kadafi e seus companheiros deflagraram a revolução libertadora, mais parecia um imenso acampamento. Havia milhares de tendas árabes espalhadas em torno do centro da cidade. Poucas edificações e milhares e milhares de tendas. Portanto o primeiro passo da Revolução Al Fateh foi providenciar moradia para o povo líbio. Milhares de conjuntos residenciais foram construídos em breve espaço de tempo, não nas periferias, como ocorre no ocidente quando se trata de atender os anseios da população de menor poder aquisitivo, mas em pleno centro da cidade. No ano seguinte, lembro que retornei aos país e assisti pela televisão a inauguração de dezenas e dezenas de conjuntos habitacionais formados por dezenas, centenas de edifícios. Um amigo líbio me confidenciou certa vez que em alguns locais eles tiveram problemas com os novos moradores dos conjuntos habitacionais. Em alguns apartamentos os líbios retirados das tendas usavam a madeira das portas internas para fazer fogueiras e cozinhar dentro do apartamento. Outros penduravam pneus e objetos nas janelas. Por isso, as futuras inaugurações foram precedidas por campanhas educativas na televisão, ensinando a população a usar adequadamente os novos apartamentos.

Muamar Kadafi, o beduíno que deixou sua tenda no deserto de Sirte para conquistar o mundo